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Cem dias

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Hoje faz cem dias que me encontro em isolamento voluntário. Cem dias é sempre um marco significativo. Em tempo de pandemia, a circulação de pessoas não é recomendável. Olho o mundo pela janela. O saldo é mais de cinquenta mil brasileiros derrotados pelo vírus. A covid 19 é uma ameaça à saúde física e mental. A tristeza e a solidão invadem as janelas. O silêncio do isolamento proporciona reflexão.

Não há paz que sobreviva ao contexto. O sobressalto da "boiada" é permanente. A natureza é um organismo vivo. O menor desequilíbrio repercute sobre o todo. A pandemia é um pedido de recolhimento, de reflexão. É preciso ouvi-lo com atenção e respeito.

O aumento do número de doentes e de mortos é a voz que clama um repensar da relação do homem com o meio ambiente, em especial a economia. Há uma grande inversão de valores na defesa da abertura das atividades econômicas tendo como argumento, o desemprego. Me pergunto: e os milhares de mortos? Não acredito em quem usa a economia como argumento para proteger a vida. A razão guarda uma cruel contradição, o que importa na verdade é o lucro.

Somos a nação da indiferença formada por inúmeras ilhas. Cada um enxerga o seu lado. O comércio defende a abertura por cumprir os protocolos para evitar a transmissão. A ilha não vê que as promoções para acelerar as vendas levam as pessoas à rua e incentivam as aglomerações. A ilha também é indiferente aos funcionários que se deslocam em ônibus sem distanciamento.

A ilha culpa as autoridades e os infectologistas pela não chegada do pico em junho ou em outro mês qualquer, como se fosse a primavera que tem dia para começar e terminar. O pico é para ser achatado evitando, assim o colapso do sistema de saúde. A ilha desconsidera as experiências dos outros países, em que a abertura deve ocorrer quando a taxa de transmissibilidade é menor do que um. Na terra Brasilis, em plena evidência do colapso do sistema de saúde e com taxa maior do que um, as pressões são, em tom ameaçador, para mudar bandeiras. Tem que ser no máximo laranja ou até branca. Pouco importa o índice de ocupação das UTIs.

A ilha do futebol também faz a sua parte defendendo o lado milionário da indústria esportiva. Os olhos se mantém fechados para milhares clubes e jogadores que sequer tem direito à imagem, tiveram contratos rescindidos e não terão como realizar testes para identificar os contaminados. Estes sim, têm o futuro incerto. As ilhas da fantasia precisam cair na real. Os habitantes se comportam como náufragos em ilhas desertas desconsiderando o coletivo. Muitos agem indiferentes reivindicando o direito e a liberdade de contaminar. Lotam praças, parques, fazem compras e festinhas.

A sensação é estar em um mar revolto que, em meio a falsa calmaria surge uma onda gigantesca e tudo volta ao começo. Solidariedade, empatia e compaixão são as únicas formas para ultrapassar este momento. Ganhos são vidas preservadas.

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